terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sonho-flor

ㅤㅤㅤFoi-se o tempo do recolhimento, foi-se o tempo do pranto invisível. Eu, borboleta, incrível eu. Os homens se juntavam para me observar, rastejando sigilosamente pelos campos de batalha. E rastejava eu pelo verde que me embriagava, sem nem ligar ou me preocupar com o prestar de contas que teria eu ao pós-metamorfose. Até a fase de mudança nunca ousavam me tocar, e outras vezes passava despercebida. Na procura do conforto acolhi-me ao desconhecido canto que parecia — ah, mas parecia muito — com os campos abertos em que nasci.
ㅤㅤㅤApós me fechar por tanto tempo dentro dos muros que eu mesma fiz, sentia as asas se tremerem de dor pedindo para sair. A agonia consumia meus pensamentos de forma até... engraçada. Até que recuperasse as forças, ousei sonhar com o mundo lá de fora. E quando finalmente pus os pés ao ar contemplado pelo “resto”, ao bater asas como nunca antes, alcançando alturas e visões que nunca sonhei ter, me permiti dançar sobre as luzes claras daquela manhã. Farfalhando canções e ousando embelezar o que pudesse ver, me aproximei de tudo que tinha medo, parecia que nunca mais passava sem que olhassem. Comicamente tentavam me tocar, me alcançar. Eu via graça naquela busca, o que eu poderia proporcionar afinal?
ㅤㅤㅤAos poucos meu tamanho foi transformando o local em insuficiente, em pequeno, e eu queria... como queria... ir além das placas de vidraças que me prendiam aquele lugar. Recolhi as asas azuis, pois, só o frio eu me permitia sentir. Eu queria voar mais, para bem longe daquele lugar. Passei noites contemplando aquele céu, almejando aquele voo. E sem nem perceber o tempo se modificando, subestimei a mim e a todos os outros.
ㅤㅤㅤNo amanhecer de outras torturas um sentimento novo parecia rachar a secura que aquele lugar me havia permitido construir (dentro de mim). E eu me permitir voar, por mais que não pudesse ultrapassar todos aqueles limites. Me manter tão quieta foi como tirar o senso crítico dos meus olhos, ou eu havia adquirido alguma deficiência quanto as dimensões. Essa jaula é tão... imensa, misteriosa e não totalmente decifrada. Na tentativa de tocar o sol a impotência tensionou meus passos e imobilizou minhas asas. Como eu pude enxergar tão longe o horizonte e mal perceber o mar que se estendia diante de mim? Alcei voo encantadamente, e sem ponderar sobre as dores que ousaria ter, entendi que o tempo não iria parar porque me enferrujara. Que venha a meta desses dias longos, pois, deste por de sol adiante buscarei as flores mais altas, ou até mais baixas. Caçarei sorrisos. Buscarei uma flor pra contemplar.

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