domingo, 6 de dezembro de 2009

Maravilhosas fendas embriagadas.

Eu definitivamente jamais deveria ter relatado o quanto aqueles magníficos olhos cor de mel contrastados com a pele negra de veludo haviam me desnorteado e distanciado da sanidade mental cujo necessitou tempo em grande quantidade para se prontificar. Pareciam estar sempre desconfiados, duas intensas fendas galanteando sorrisos tortos e amarelados. Acompanhado de seus olhos havia um nariz mediano, indiferente, e lábios naturalmente vermelhos e grossos, jamais vistos por mim em qualquer outro homem. Aproximação daquele militar era uma regalia que não me era pertencente. Talvez ele nem pensasse em se juntar ao exercito, mas seu cabelo rente e massa muscular faziam dele um dos mais robustos homens que já me proporcionara a sensação de proteção que eu já conheci.

Depois de correr três quilômetros em um parque quase alagado cheio de crianças meigas correndo e brincado supervisionadas por matronas, que me lembravam os quadros representando à alta burguesia de meu livro de história, pensando naquela face negra e suntuosa. Repeti altos elogios frente ao espelho... Bem, não era um espelho na verdade, mas alguém cujo eu via o reflexo de tudo que venho me tornado e feito. Aquela amiga que não se cansa de ouvir as repetitivas frases retiradas de músicas e textos clichês circulados pela internet. A atenta confrade dava gargalhadas que pareciam um poderoso combustível para que eu cada vez mais elogiasse o moçoilo. Quem dera ele pudesse me escutar. E queria eu poder tirar da menina o poder de usar os lábios para intencionalmente espalhar amor pelos cantos.

Lá se foram três anos de quietude sentimental e resguarde de desejos por magnetismo entre um cara qualquer... E eu. A rapariga abriu a boca para repetir tudo que eu havia lhe dito sobre o desconhecido de pele chocolate aveludada que me concedera seu lugar no ônibus lotado, e coisas mais que nem me haviam passado pela cabeça. O maravilhoso sem nome, quando ouvira, ficara empolgado e dissera que lembrava-se de mim sorrindo estranhamente, com os lábios cerrados enquanto tentava decifrar que tipo de carisma havia em meu olhar.

Não, não houve sequer outra troca de olhares entre eu e Bert, o cara do ônibus. Mas ao longo dos seguidos dias sempre nos lembrávamos, eu e minha chamada “melhor amiga” do galanteador negro desconhecido que tentara decifrar mistérios jamais desvendados por sequer um outro conhecido que já tivera fortes contatos comigo. Ele seria um poderosos candidato a escrever uma real e significativa biografia sobre minha mente, mas meu orgulho inconsciente de manter o segredo, o charme, pediu-lhe distância. A única vez que o vi, após o caso, foi em uma passada ao meio da rua, vestido como um empresário às quatro da madrugada, embaralhando as letras e trocando as pernas. Chegou até a me cumprimentar... Como se jamais houvesse me visto antes, e talvez tenha pensado que eu era uma miragem. Ainda assim seus olhos amarelados não perdiam o encanto sutil que um dia eu vi em sua sóbria sombra misturada ao aglomerado suado daquele automóvel público. Sempre que me postava em um ponto de ônibus, lembrava de Bert.

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