quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Não é você, sou eu.


Por meses andei com correntes amarradas em minhas pernas, na ponta de cada conjunto de nós metálicos havia um peso que eu supostamente havia roubado de alguém. Mas não o fiz, o peso nunca foi tomado, apenas equilibrado em dois pares de mãos trêmulas por um tempo, até que eu me sentisse confortável pra encarar a situação.

Achava que a culpa era dele. Ele quem havia caido em minhas expectativas, ele quem havia mentido, ele quem havia escondido, ele quem tinha sido um alguém comigo e um outro quando eu não podia vê-lo. E no inicio foi, eu me senti ser puxada tentando resgatar alguém ao dar as mãos. Mas desde então a decisão de me atar ao fundo daquele lugar hibrido foi profunda e completamente minha.

O arrependimento cobria todos as nossas ligações, uma mistura de arrependimento e mágoa. De ambas as partes, por ter acreditado, por ter mentido. E ainda assim eu não fui capaz de superar... por tanto tempo. Por tanto tempo não fui capaz de perceber que a mágoa que parasitava dentro de mim já não era pelo erro dele simplesmente. Mas pela descrença em tudo que eu acreditava passar aos outros.

Eu achava que fazia os outros felizes, que passava segurança, que minha honestidade faria com que quisessem me abrigar, me acolher. Achava que poderia ensinar a amar da forma mais pura, sem dor, sem pesar. E ele me provou que eu talvez jamais tivesse sido capaz de coisa alguma. Ele não se sentia nem um pouco seguro ao meu lado.

Doi tudo, mas o que dói mesmo é imaginar que eu não emitia aquilo que eu achava, dói pensar que eu não sou capaz do que queria. Doi lembrar que ele não recebia o que eu achava dar. E que então ele não teve por que se importar. Não teve motivos pra achar que precisava ter cautela. Eu nunca fui, enfim, alguém que precisasse ser protegido e confiado. Nunca fui quem eu achava ser. Nunca fui capaz. Nunca soube ser. É isso que dói, não ter sido capaz de provar a pureza na minha tentativa. Porque eu tentei... mas nunca soube mostrar.

E hoje eu sei o preço a se pagar pelas grandes expectativas. Há uma frase popular sobre colocar pequenos sonhos em grandes pessoas, e um dia descobrir que grandes mesmos eram os sonhos e as pessoas eram pequenas. Ele não me desapontou. Eu sim.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bobo é aquele que olha o horizonte enquanto um mar imenso se estende a sua frente. Sabe o que é o horizonte? Aquilo que vai estar sempre ali, distante, não importa onde você esteja.

Copyright Todos os direitos reservados a Vitor Kosaka (http://www.flickr.com/photos/whltravel/3707318182)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sonho-flor

ㅤㅤㅤFoi-se o tempo do recolhimento, foi-se o tempo do pranto invisível. Eu, borboleta, incrível eu. Os homens se juntavam para me observar, rastejando sigilosamente pelos campos de batalha. E rastejava eu pelo verde que me embriagava, sem nem ligar ou me preocupar com o prestar de contas que teria eu ao pós-metamorfose. Até a fase de mudança nunca ousavam me tocar, e outras vezes passava despercebida. Na procura do conforto acolhi-me ao desconhecido canto que parecia — ah, mas parecia muito — com os campos abertos em que nasci.
ㅤㅤㅤApós me fechar por tanto tempo dentro dos muros que eu mesma fiz, sentia as asas se tremerem de dor pedindo para sair. A agonia consumia meus pensamentos de forma até... engraçada. Até que recuperasse as forças, ousei sonhar com o mundo lá de fora. E quando finalmente pus os pés ao ar contemplado pelo “resto”, ao bater asas como nunca antes, alcançando alturas e visões que nunca sonhei ter, me permiti dançar sobre as luzes claras daquela manhã. Farfalhando canções e ousando embelezar o que pudesse ver, me aproximei de tudo que tinha medo, parecia que nunca mais passava sem que olhassem. Comicamente tentavam me tocar, me alcançar. Eu via graça naquela busca, o que eu poderia proporcionar afinal?
ㅤㅤㅤAos poucos meu tamanho foi transformando o local em insuficiente, em pequeno, e eu queria... como queria... ir além das placas de vidraças que me prendiam aquele lugar. Recolhi as asas azuis, pois, só o frio eu me permitia sentir. Eu queria voar mais, para bem longe daquele lugar. Passei noites contemplando aquele céu, almejando aquele voo. E sem nem perceber o tempo se modificando, subestimei a mim e a todos os outros.
ㅤㅤㅤNo amanhecer de outras torturas um sentimento novo parecia rachar a secura que aquele lugar me havia permitido construir (dentro de mim). E eu me permitir voar, por mais que não pudesse ultrapassar todos aqueles limites. Me manter tão quieta foi como tirar o senso crítico dos meus olhos, ou eu havia adquirido alguma deficiência quanto as dimensões. Essa jaula é tão... imensa, misteriosa e não totalmente decifrada. Na tentativa de tocar o sol a impotência tensionou meus passos e imobilizou minhas asas. Como eu pude enxergar tão longe o horizonte e mal perceber o mar que se estendia diante de mim? Alcei voo encantadamente, e sem ponderar sobre as dores que ousaria ter, entendi que o tempo não iria parar porque me enferrujara. Que venha a meta desses dias longos, pois, deste por de sol adiante buscarei as flores mais altas, ou até mais baixas. Caçarei sorrisos. Buscarei uma flor pra contemplar.

terça-feira, 26 de julho de 2011

ㅤㅤㅤMalditas sejam as lagrimas vencidas, agrupadas e frias que se fortalecem dentro de mim. Eu jurei nunca tropeçar frente a todos eles, eu jurei a mim mesma que iria carregar os troncos amarrados em minhas costas sem pestanejar. Mas eu preciso colocar isso pra fora de mim, antes que se torne outro ciclo amargurado.
ㅤㅤㅤAs lágrimas quentes que se escondem, se esfriam. E frias se acumulam amolecendo por dentro aquilo que um dia se fez forte. E esquecidas congelam o interior que um dia se provou esperançoso. E quando eu começo a procurar o calor exterior... ninguém entende o que aconteceu por dentro. E a secura vai se mostrando o melhor ambiente, o silêncio torna-se amigável, a distância torna-se aparente.
ㅤㅤㅤQuando o rio morno aparecer outra vez, quando os nervos se inflamarem e tudo mais do corpo se fatigar enquanto trêmulo. Um grito vai ecoar pelas entranhas do espirito. E todas as lágrimas se tornarão quentes, e toda mágoa ferverá. Existirão olhos que brilham numa tristeza sonolenta, e outros pares de olhos que se mergulham em compaixão. O corpo pequeno vai se angustiar, até que por fora tudo possa sorrir.
ㅤㅤㅤDeixa por favor isso sair de mim então. Deixa que isso não venha a acontecer, que esse corpo não venha a desabar, que essa fé não venha a desaparecer, que essas lágrimas encontrem segurança pra sair. É sempre mais fácil quebrar um copo trincado, então que trinque as lágrimas e se mantenha o copo. Porque só assim se afasta a solidão.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ㅤㅤㅤMeu coração pesa nos braços de um relógio obsoleto. O mesmo pulsa envergonhado, amedrontado pelo fogo da vivência. Se desespera na incerteza da resposta e chora ao me ouvir falar. Só eu sei o quanto pesa carregar de mãos atadas, sobre o penhasco da timidez, um coração tão enrolado. Só eu sei o quanto dói entregar com falsa tranquilidade amor que deveria ser meu.
ㅤㅤㅤO Relógio está parado, o ponteiro está correndo e o tempo passa devagar. Se enrijece outra vez, coração, pois, o fundo do poço aguado tem vindo a mim como lembrança bucólica e despreocupada, lá ao menos o vento da vida não passava por mim.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ... Nada passava também
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤSem fé ou amor, só dor desconhecida...

Dor que se finge estranha, pro outro não conhecer, não reconhecer fantasiada, de amor. Com medo de perder, então a prende e não mostra.

E se perde, a perde.

E se isola, fica só
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤE é só
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤSó amor.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Regalia que me cega inutilmente. No confortar-se com os repugnantes modos vejo-me hoje sem saída, sem respaldo. Perdida num campo de rosas minadas, que mimadas com minhas trevas relutantes não se cansam nunca dessa vida sem pudor.
Um só segundo agindo inutilmente, do mesmo modo que sempre foi, e então tremendas horas suspirantes fazendo-me cansar daquilo que eu mesma havia me tornado. Afinal de contas, sou eu aquela que vejo no espelho quando estou a sós, cá com meus devaneios de loucura ou de medo do fogo que consome o mundo, ou aquela em chamas, perdida num espaço vago de amargos gestos?
É de doer tanto que me sinto prendendo lágrimas pra fingir estar bem. O que tanto via nessa vida repleta de passividades? Vejo-me em dois distintos meios, querendo sempre pender pra um lado apenas, mas me prendendo um tanto no outro por medo da agonia de estar só em meio a tantos antes companheiros.
Diz-me o que dizer, Elo grande que hoje me conforta. É tudo que peço aos mais altos céus que possam me ouvir. Pois hoje me sinto usada, por um lado meu que tento aos prantos apagar. Divino alegre que me acalenta, sou tua e jamais serei deles. Ainda que outrora jamais, também, tenha sido. Um só membro do outro lado do muro é o suficiente para fazê-lo sorrir, aquela besta que brandamente arde em seu fogo que assassina.

terça-feira, 15 de março de 2011

Viagem Homérica

Queria eu fazer resplandecer do seu rancor um amor tão puro quanto o meu. E tocar-te os olhos com os meus sem que o frio que se intensifica dentro de mim tenha medo de transparecer. Hoje eu me perco em devaneios, que por tão pouco não me fazem mal. Em meio a uma linha, uma frase, uma música; perde-se minha mente, que encontra em tão claro sonho pensamentos seus, que talvez jamais irão existir. Volto a vida com um piscar pesado, concentrando me outra vez naquilo que desapareceu porque simplesmente você me dominou.

Queria encontrar frases de encorajamento em todos os possíveis lugares encantadores. A literatura podia me encurralar, acusando meus sentimentos e me forçando a admitir o escudo protetor em que me entranhei só pra proteger de ti o meu frágil coração. As vezes até me vêm bons exemplos. E sempre me vem o medo de perder, mas nunca a coragem pra gritar.

Sabe você como é temer? Prender-se a uma verdade nua e crua, querendo levantar voo e impedida pelos pés colados ao concreto real? Temo tanto te perder que prefiro te perder aos poucos sem que ninguém saiba, ao invés de te perder de vez com um simples falar, contar... revelar.

Se me fosse permitido, eu te diria tudo que sei. Coisas que você sabe e eu sei. Que você nem sabe que eu sei. Coisas que você mal imagina, ou que talvez já saiba e apenas não diga. Que por humildade você nem pense em dizer. Todos já passaram por esse mar de subtendido... onde você jamais conta o que se passa por trás, só por medo de ter entendido errado. É aquele medo de levantar a mão e interpretar um poema, e apesar de definitivamente alguns concordarem com a sua visão, o cara lá da frente de dizer que está errado, que não foi isso que o autor quis dizer. “Mas boa criatividade a sua”.

Eu espero com veemência que um dia chegue a entender. E se me viesse uma oportunidade, eu lhe contaria tudo que se passa por trás, aquilo tudo que você já sabe. Aquilo que escorrega pela nossa voz entre as risadas, mas que nunca ameaçamos e nem pensamos dizer. Ainda que isso me fizesse destrambelhar as pernas, e que em diante eu desejasse estar tropega diante da vida. Só pra saber sem intermédios... eu seria capaz. Só pra entender você. Só pra compreender você. Só pra poder te admirar livremente e pra conseguir direcionar outra palavra a você. Ainda que isso significasse dor e uma sucessão de ignorâncias de sua parte. Só pra me colocar em meio a vida de verdade, não em meio a sonhos. Pra poder admitir os arrepios da sua presença. E pra poder deixar rolar pra fora toda tristeza sem vergonha ou medo do seu descobrir. Aquilo que voltou a me inspirar é a homérico, meu bem, que tanto tenho entre segundos... que me faz sorrir ainda em meio a tanta saudade, daquilo que nunca foi meu.