sábado, 22 de agosto de 2009

Se calar.



     Passados os anos a simetria das coisas teve um sentido mais nítido para mim. É engraçado lembrar-me dos meus pais aconselhando, ou praticamente obrigando, à estudar dês da época dos trabalhinhos com ervilhas e feijões, lembrar do quando eu ficava intrigada em não poder ganhar a Barbie mais cara do papai Noel por não ter tido boas notas. Meus nervos dançavam e eu poderia encher uma piscina de lágrimas pelo simples fato de não poder sujar minhas pequenas e frágeis mãos na terra do parquinho e depois comer com as mesmas sem ter que andar os metros cansativos até o banheiro para limpá-las. Lembro-me bem de achar uma pura chateação minha mãe dizendo que escovar os dentes era necessário e que eu não deveria ser o reflexo dobrado das minhas coleguinhas de turma, contando-me que deve-se ter uma personalidade própria. “Mas que saco” — eu diria.
     Agora as coisas parecem ter um nível maior de importância, e uma forte onda de arrependimento me atinge, parece que a cada ano que passa eu levo uma pancada da água e caio de cara na areia. Mas tudo bem, tudo bem... Eu era nova, não sabia da vida, e na verdade, nem me questionava o que era viver. Coisa que hoje parece um fantasma que me assombra todas as noites antes de dormir. E então como uma rotina sagrada, levanto-me todas as manhãs na hora certinha, cronometrando os minutos para não me atrasar para as importantes aulas de química I, escovo os dentes e o cabelo sempre verificando se há alguma sujeirinha ou nó escondido por lá. Tento ao máximo pegar cada segundinho da aula dos professores, me enojo com bobagens que escapam das bocas de bons associados à hipocrisia e apesar dos apesares, tenho aos professores como os verdadeiros conselheiros.
     Me percebo como uma jovem idosa, incompreendida, crítica, mas por incrível que seja com o coração doado a tudo e todos. Rindo das mais baixas peculiaridades do dia a dia e levando frases inocentes a um mundo de duplos sentidos— como se o sexo estivesse no centro do universo. É engraçado até, contradigo meus próprios dizeres, quando digo não me importar com aquilo que dizem de mim... Eu me arrumo para quem? Me perfumo para quem? Me preocupo com o quê? E me tento por quê? Ah, eu sei lá, ninguém quer saber isso, porque me preocupar? Acho que, a auto-crítica faz parte de mim. E talvez seja uma das mais agradáveis características daminha personagem, e que linhas estranhas Deus tornou a escrever. Só sei que sou rei, rainha dos meus contos e fantasias de todo tipo. E quem dirás quem sou, se nem ao menos o mundo sabe bem o que se és. Tão importante, tão sem importância. O fato é, fato já é real então fato real é redundância, mas eu crio tantos fatos e tampouco são reais. Mas que erro extraordinário senti-me até mais viva. Ai, que incapacidade eu tenho em fazer a vida com nexo.
Tamyris Kortschinski, Dezembro de 2008.

2 comentários:

  1. A vida com nexo é para pessoas sem alma, que tem o sexo como centro do universo. Ainda bem que crescemos.

    Parabéns, você escreve muito bem. Eu, particularmente, gostei muito do teu estilo. É um máximo, eu acabo tendo que ler várias vezes.

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  2. Ainda bem que crescemos mesmo, rs.

    Obrigada pelo elogio, Jéssica. HAHA, legal. Andei lendo os seus e adorei.

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