domingo, 3 de janeiro de 2010

Uma morte, talvez a minha.

Um lugar frio e sujo, era tudo que sabia. A água descia lentamente pelo seu corpo, estremecido e frágil corpo de menina. Seus nervos pulsavam, sentia pequenos animais rastejantes caminhando lentamente sob sua pele, lhe levando à loucura. Tortura amarga, ela não podia ver, ouvia portas escancaradas de ferro baterem, tentava estancar seus cortes consolando a si mesma com um amor inexistente. Seu grito ecoava pelo lugar, e ela não conseguia se ouvir. Gritava cada vez mais alto, tentava levar o vazio até o ser humano mais próximo, mas desistiu. Uma lufada foi o bastante para que entendesse que tudo estava perdido.

Suas mãos soltas tentavam escapar pela planta espinhosa ramificada, os cortes cada vez mais profundos. Ela ainda tentava se enganar, repetia à si mesmo em pensamento que alguém à esperava. Vacilou, deixou-se descer dolorosamente pelas pedras brutas, não podia sentir o chão, pegava ar na superfície e se deixava levar pela corrente. Lá estava a menina que se dizia forte, sendo levada pela corrente mental, cega e sem dar ouvidos ao que ela mesma dizia. Derramando seu próprio sangue na água turva, engolindo o amargo de uma decisão. Desconhecidos alimentando-se de sua carne. Deixou a Sanidade na terra seca.

"Eu tenho medo, meus gritos não tem som para mim".

Enterrou suas unhas imundas na pele pálida, rasgou sem som, sentiu sair o sangue, a vida, os vermes. Repetiu o mesmo com cada pedaço de pele de seu corpo, seus olhos pesavam sobre o negro do poço. A corrente então aumentou, a desolada criatura relaxou, boiou sobre a água, ensopou-se em seu sangue. Quando finalmente enxergou uma claridade, estava caindo. Entorpecida por suas dores, não sentiu o final, seus olhos continuaram abertos e fora virar vida de um abutre. Agora morta também por fora, um fim duvidoso... Onde tudo que ela queria era sua própria brincadeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário