sexta-feira, 9 de abril de 2010

As dores da morte de um pequenino.

Ouvir durante a leitura: http://www.youtube.com/watch?v=kCvVTLWKS_U



Mais um tranquilo dia chuvoso, ao som de Yann tiersen, summer 78, encontrava-se sentada sobre os lençóis pálidos da cama. Observava a chuva ao lado de fora, chamando-a para a procura. Há horas estava feito uma estátua virada em direção à janela, mudando apenas poucos detalhes de movimento corporal. Respirava fundo, mas calmamente. Deixara as lágrimas rolarem uma a uma, num silêncio de adormecer qualquer um. Aqueles marejados olhos cor de mel estavam cansados, as pálpebras como chumbo demoravam-se fechadas quando piscava. Era assim durante todo o inverno, em um dia qualquer, aleatóriamente escolhido por sua mente inconformada.

Havia preparado os dois pedaços de pão quente amanteigados, sem casca, tendo um sobre si uma doce colher de mel derramada. O chá de hortelã preparado tão calmamente, assobiava enquanto a água fina da torneira caía levemente dentro da xícara de porcelana. Abrira o pequenino pacote com uma cachoeira querendo sair por seus olhos, carregando um sorriso que vacilava. Duas colheres de açúcar, sentada sobre a mesa velha e sem pano, rodava a colher dentro do líquido quente e cheiroso. Colocou os objetos na mesinha de cabeceira, e lá estava ela sentada.

Dava olhadas escondidas para o relógio obscuro no canto da parede, encolhida com seus braços em volta de suas pernas, cantarolava baixas canções de ninar, e as lágrimas começavam a descer feito uma forte correnteza num campo livre, verde e sereno. Ela sabia que nenhuma criança passaria pela rua com uma capinha esverdeada e livrinhos por sobre a cabeça segurados com a mão, mas imaginava toda a história que deveria ter ocorrido naquele dia. Fechava os olhos e ouvir a porta se abrir, as gotas batendo forte contra o chão, aporta sendo fechada com força, passos pequeninos pela escada, olhos castanhos arregalados... "mamãe".

Se enrolavam num abraço e ele pedia licença. Ela saia do quarto e começava a preparar a banheira de água quente, enquanto o pequenino comia com pressa as torradas e bebia com vontade o chá quase frio. Como ela queria que fosse verdade. Passando a mão sobre a água quente, tentava ouvir a voz... mas era respondida com a chuva e a solidão vinda do quarto que a poucos deixara. As lágrimas prosseguiam com sua caminhada, ela levantou-se e foi até o quarto. Seu coração era tomado de dor, e pulsava saudade, ao observar a xícara cheia e o prato não tocado. Envolvendo à si mesma com seus braços, recostava-se a parede gelada e observava os bonecos que zombavam de sua tristeza, seus olhos passavam devagar pelas roupinhas dobradas sobre a estante.

Era essa a dor de todos os invernos, a dor que pedia por remédios para que o sono viesse. A dor de não saber para onde foi, de não saber como está, de imaginar a pequena prole encolhida há anos em um pequeno canto da floresta próxima, pegando a chuva, a neve, o sol. E sem saber voltar para casa. Tudo que ela desejava no mundo se resumia a uma coisa: Ver o menino molhado passando pela porta. Sempre muito doce e dedicada, sua ida fora entregue aquele pequeno cristal sorridente, e uma simples rua molhada fez ir embora o motivo de cada respirar seu. Mais um longo sussurro e novamente estava ela deitada, surrada e sozinha na cama macia de seu falecido filho amado.

"Volte para mim, volte."

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