segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Viagem metafórica.

www.youtube.com/watch?v=m4kRciR7Eo4



A delicada jovem se divertia ao inverno provando das insípidas e geladas gotas de neve enquanto sua mãe procurava certificar-se que ali havia segurança, olhava com atenção para cada passo dado pela doce menina.

A Mulher, que pouco da vida sabia, muito sabia sobre sua cria. Mas muito jamais poderia representar um todo. Encontrava-se diante de um campo de batalha, com uma corrente e apenas uma chave, milhões de possibilidades corriam sob seus olhos, entretanto, só uma lhe convinha. Sentia que devia dar segurança, conhecimento e felicidade para a pequena, mas tinha plena noção de que salvar a jovem alma implicava no esquecimento de muitos dos seus poucos grandiosos sonhos, talvez de todos. Como o de uma bela e significativa viagem.

Ao receber uma passagem para um distante, magnífico — e jamais conhecido por ela — lugar, ela tinha uma decisão a tomar. Pegar suas malas, abrir um sorriso e atravessar as escadas sem olhar para trás, pois se olhasse provavelmente voltaria. Ou entregar, sem hesitar, a passagem nas mãos da pequena. Como progenitora procurava cumprir bem seu importante papel. Jamais optaria pela primeira opção, deu à filha as passagens sem pestanejar. A ajudou a preparar as malas, comprou roupas novas, embelezou sua alma e seu exterior, lutou com veemência para que a pequenina tivesse uma boa estrutura para agüentar os balanços da viagem.

Após o partir do objeto voador carregou consigo uma rotina de lágrimas entorpecentes. Sentava-se frente à janela barroca do segundo andar e lia as cartas e cartões postais da jovenzinha deixando que lágrimas congeladas rolassem por seu rosto repleto de sonhos guardados. Observava as fotos ensolaradas com panos leves dançantes em meio à um solo coberto de coloridas flores, que poderiam murchar deveras a qualquer momento mas que necessitariam de apenas um tanto pouco de água para voltarem a brilhar espalhando um odor provavelmente suave e amadeirado. Comparava as violetas orquídeas Bambu com a árvore lívida e fria, repousada em seu quintal bruto e grotesco, que gemia tortuosamente todas as noites não a deixando dormir em paz.

A mãe, porém, jamais soltaria sequer um suspiro isento de intranqüilidade caso estivesse nos mais belos e cheirosos campos, pois, imaginar alguém a quem tanto dedicou seu amor sentada, sozinha e chorosa lhe traria desassossego e lágrimas que penderiam para todos os cantos de sua jornada. Ela jamais viajaria se para isso tivesse de passar por cima daqueles que a amavam, daqueles que ela amava. E se mergulhar num poço de infelicidade faria com que colhesse sorrisos nos rostos de quem a observa ela iria ao mais fundo dos poços.

A Viagem... Jamais deve ser entendida como uma viagem qualquer. Mas como um grande sentimento que encurrala todo ser humano algum dia, que denuncia suas fraquezas e o coloca em estado de extrema vulnerabilidade diante do condutor da viagem. A viagem pode ser turbulenta, a viagem trará boas lembranças ainda que acabe, boas e ruins. O importante da viagem e vê-la com os olhos de um romântico, e dramaticamente eufórico perceber que a Viagem não passa nada mais nada menos do que um poder que toma o coração de um ser humano. Mãe e filha representam simplesmente alguém que entrega sua vida pela vida de um outro alguém, alguém que se mata afogado para segurar nas costas, ao alto, para fora do mar, aquele que quer ver feliz respirando do mais puro e leve ar.

2 comentários:

  1. Adorei como sempre. Fazer o que se você sabe escrever muiiito. XD

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  2. Own, obrigada irmã! olha quem fala, seus textos tem sido maravilhosamente encantadores, lindos e bem escritos! *-*

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