segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Overdose de dor.

Parece que tudo voltou ao normal, afinal de contas. E o meu normal infelizmente... ou melhor, felizmente não é comum àqueles que não presenciam ou acompanham meus dias que variam de alegres aos mais doentios. Novamente sinto a morte escorrer pelo meu corpo e tenho medo daquilo que tanto tenho almejado presenciar. O dia hoje está longo, o frio me convém intensamente e minha pressão baixa apenas contribui para minha síntese macabra da vida. Eu sinto o orgulho percorrer as minhas veias e o anseio em causar dor me leva a desconfiar de quem realmente sou.

No dia de hoje sou uma pessoa ruim, indisposta à perguntas e sorrisinhos de graça. Em minha mente passam milhares e milhares de vezes por dia a cena romântica do contato da lâmina afiada com a pele frágil. As lágrimas escorrendo lentamente, uma por uma fugindo daqueles olhos tristes e vazios. Os pulmões enfraquecidos buscando ar por instinto, não por vontade. O coração gelado teimando em pulsar.

A pressão quando usada como ameaça pode ajudar, mas quando usada como método causa estouros. Não é gracioso ver uma torneira alimentada pelo mar se esgotar e corpos frágeis também não aguentam grandes pesos. Eu me encaixo em tantas perdas que todo dia há um novo funeral dentro de mim. Em meus olhos qualquer um que olhar bem poderia ver o rompimento de um pacto feito entre um corpo e uma alma e o sangue é aquilo que se perde, aquilo que havia sido trocado entre ambos, aquilo que mantinha o pacto. Aquilo que se esvai lentamente deixando o chão encardido e manchado.

Lágrimas de arrependimento são derramadas, mas nunca realmente deram ouvido. É difícil colocar para fora aquilo que lá dentro te faz mal, quando a rotina lhe mostra que mais mal ainda é você tira-lo de si, mesmo que por alguns segundos isso lhe faça bem. A verdadeira solução seria não engolir, o que é difícil para quem não tem mãos ágeis o suficiente para alimentar a si próprio. Talvez hoje seja só mais um dia entre milhares de outros em que eu esteja cansada, mais um dos dias em que eu faça ameaças à mim mesma e provoque temores dentro de alguns corações.

Mas a cada dia que passa o cansaço se torna maior, como num vicio, as doses começam a se tornar exageradas, o ar some. Não porque não há mais, ele está lá, mas não é dele que seu corpo sente falta. É de uma simples resposta. Então o absurdo fica cada vez mais perto... mais perto... bem perto... perto. E o medo some, como num coma, eu obviamente estou aqui neste momento. Mas verdadeiramente não estou em lugar algum.

“O corpo humano tem limites. Quando determinadas substâncias são ingeridas em quantidades que ultrapassam esses limites más reações podem ser desencadeadas. Em caso de overdose, uma das coisas que não se deve fazer é provocar vómitos, pois isso pode ser muito prejudicial. Os sintomas da overdose geralmente são: problemas respiratórios e perda de consciência.”

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