sábado, 6 de novembro de 2010

Oh, computador.

Hoje venho lhe contar sobre a solidão.
— Senta aí.
Sento-me sim, mas sento-me sozinho... ainda que me acompanhe.
— Fala.
Semana passada quebrei três copos de cristais, mas, foi assim sabe? Bem a toa. Só por quebrar. Foi num daqueles momentos que nos bate raiva desesperançosa, dá vontade de acabar com tudo, de quebrar o mundo. Eu que não sou disso admito desespero. Me encontrei viciada nos ponteiros do relógio, imaginando onde meu amor estava, o que estava fazendo, eu me sentia insegura. Sabe aquele medo que bate? então, meus dedos estavam navegando pelas letras, me sentia tocando uma música triste num piano desafinado, não saia nada de bom. Só rascunhos, mas eu sempre vivi disso, você sabe bem. Eu e meus rascunhos que as vezes ouso chamar de arte. Enfim, criei alguns poemas, um era soneto, os outros estavam sem forma. Acho que tavam mais pra prosa dividida, sabe? Quando você tá sem paciência pra verificar pontuação e sabe que se for escrever um texto vai enfiar vírgula onde não deve, ai você pula pra outra linha e tá tudo resolvido. Vira poema! Como eu dizia, ele devia estar em algum lugar sorrindo a beça, sem nem pensar em mim, sem nem me imaginar lá deitada chorando, calculando palavras e frases massantes pra colocar na redação cortada. E eu fiquei me perguntando depois porque eu chorava tanto, porque eu rezava tanto, porque eu tinha tanto medo de perder esse amor.
— ...
As vezes eu queria que você pudesse me responder. Só você, nem eu, lembra as tantas palavras que apaguei. Só tu conhece os rascunhos embriagados, as frases que apaguei com medo que lessem e descobrissem a verdade passada dentro de mim. Porque, sabe como é... o mais legal de ser escritor é ouvir as mil interpretações e só ter meias verdades. É poder dizer "Ah, eu sei o que a frase quis dizer, fui eu que fiz". Vai todo mundo tentar entender, colocar num fato, mas só você lembra porque escreveu aquilo. É o mistério entre eu, você e você. Você papel, você palavras, eu sozinha. Engraçado te chamar de papel, tá mais pra quadro branco eletrônico. Mas, então... voltando a seriedade da coisa — se é que existiu alguma — seria bom saber se meu amor ao menos pensa em mim. Se ele me imagina, como eu o imagino. Se ele perde noite numa viajem propensa à insônia, a olheiras no dia seguinte. Se ele desperta de manhã tentando imaginar minha face. Será que eu já passei por ele na rua?
— ...
Ai, que solidão.
Nem tu tem nada pra dizer. Nada pra falar, e nem pode. To ficando maluca de querer exigir uma resposta. É. Só sei que tá de noite, a madrugada vai chegar e eu vou lembrar de coisas que não aconteceram entre eu e um alguém que eu não conheci, e que talvez mal tenha desejado nascer. To sozinha e só. Sonhando com um tal alguém, que talvez jamais me venha aparecer. O bom de tudo sabe qual é? Eu posso fingir que tu é ele, e você pode me responder com palavras doces e encantadoras, me dizendo beldades delicadas, se mostrando sensível o bastante pra me fazer apaixonar. Uma pena que eu saiba disso tudo. Se eu bebesse mais, ou melhor, se eu bebesse algo, talvez eu acreditasse na sua presença, é. Só talvez, só talvez.
— ...
Vou me deitar... que o sono bate a minha a porta. E fique você sabendo que um dia terei tanta mágoa que não virei de visitar, não lhe contarei com sinceridade o que tem ocorrido em minha vida, de mim nada saberás. E... quando isso ocorrer, você vai ficar bem. Mas vai estar tão só quanto eu, ou talvez eu esteja mais. Não interessa, só o que sei é que... Obrigada pelo espaço.
Bonne nuit, mademoiselle.

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